sábado, 28 de março de 2009

La noche de los teatros

( já que a cronologia do blog foi pro saco, vai tudo junto e reunido de qualquer jeito então =D )



Longe de ser o propósito de um Porto Alegre em Cena, o "La noche" simplesmente leva para rua e para o acesso do público todas, eu disse todas, as produções artísticas em cartaz em Madrid.
Pensava eu, na minha mera ingenuidade provinciana gaúcha, que era mais um fomento ao consumo cultural. Um busca por novos públicos, novos modos de expressão, novos contatos, novas perspectivas.
Ledo engano, my dear.
O evento é a comemoração do, digamos, aniversário desta arte, e para isso tivemos reles 170 espetáculos em uma noite. Exato. 170 espetáculos em 1 noitezinha somente.
La noche está em sua terceira edição e reune um público de dar inveja.
Se os teatros do nosso país raramente estão com casa cheia ( seja pelo valor, seja pela divulgação, seja pela qualidade - ouquei estes méritos merecem uma atenção aparte, não entremos aqui nessa discussão), e nossas mostras conseguem reunir peças de qualidade mas que tbm por vezes deixam a desejar no público e por isso saem o olho da cara para quem resolve pagar, aqui não.


Consegui acompanhar 4 dos espetáculos ( 170 é humanamente impossível), todos "en la calle" a céus aberto e tendo muito contato com o público. ( Mãe, kalil , meus deus como queria vcs lá pra verem o fervor e a relação público-artísta, de ficar arrepiada.)
O primeiro, que encontrei meio por acaso em uma das praças foi uma interpretação da morte do cisne - ballet pra variar - do Ballet o lago dos Cisnes, não chegou a ser uma suíte, mas a interpretação e a técnica não deixaram a desejar. Sem contar na dor que deve ser usar uma sapatilha de ponta em puro asfalto, nem quero imaginar). Comecei bem minha peripécia teatral.

( Essa foto é do ballet Gisele, que era um dos 170 espetáculos aberto ao público)

O segundo foi um Teatro cómico de rua com dois atores, que a uns 30 metros da bailarina anterior, faziam improvisações sobre a existência e a dualidade das coisas sobre uma cama e vestidos como seres oníricos.
O terceiro , e mais lindo, foi a Cabalgata Barroca de teatro. Compreender eu acho que não compreendi, mas me encheu os olhos e a imaginação. Uma caminhada entre cervantes, hamlet, don quixote, seres alados, taberneiros, a morte, zumbis, monstros, demônios...com figurino e maquiagem impecáveis.
O último foi um espetáculo de Jam session da Mayumaná , e o que me motivou a escrever este post. Não pelo espetáculo em si, que me pareceria ótimo se eu tivesse conseguido ver, mas sim porque foi ali que pecebi como minha visão era provinciana. Eles não precisam fomentar a cultura e as artes, eles às celébram, prova foi o amontoado de mais ou menos 5.000 pessoas para ver este espetáculo de 20 minutos em plena rua.


( um ônibus tentou furar a multidão. Virou arquibancada pro show em 2 segundos)

A energia foi única. E Compartilhar um experiência destas com 5.000 pessoas não tem urucuba que fique no corpo ou baixo-astral que persista. Amei, me arrepiei. Tirei muitas fotos das pessoas - pq o show eu só escutava.
me senti viva, pois mesmo sendo nanica e estando no meio de um empurra-empurra , aquela energia coletiva, aqueles acordes das percussoões, as palmas, os sorrisos, as tentativas de um jingado estilo gringo sacodem a poeira.
O melhor : tudo de graça, tudo na rua, tudo sem o tal invólucro intangível de arte, tudo ali humano, quente e vigoroso. Adorei.
Fica a dica. Dia 27 de Marzo La noche de los Teatros, se tiverem por aqui não percam por nada.

Um comentário:

  1. Bailarinda minha!!! Escreveste de tal maneira que cheguei a sentir o cheiro dessa grande festa, dessa grande celebração que é o teatro.
    Me emocionei contigo e "fui" pro meio dos cinco mil que aí estavam...
    Nada como viver a arte sem ser platéia, não?
    Meu beijo amoroso.

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